São paulo, 06 de outubro de 2010
"Como uma coisa pode ser duas ao mesmo tempo?" - questionou o Profo. Ulisses Araújo aos alunos da turma 74 antes de situá-los na temática da aula, a fim de obter explanações e o direcionamento que as mesmas dariam a sua indagação. Se apoiando, posteriormente, na ideia da "teoria do caos" - a influência de forças e fatores atuam sobre pessoas e/ou objetos de forma diferente - e de um dos aspectos representados no filme "O ponto de mutação" - perspectivas diferentes - o Profo. Araújo fez alusão à construção de valores morais com base em estudo publicado no livro de sua autoria: "Educação e valores: pontos e contrapontos".
Tal construção se trata de um processo fluido e não rígido, posto que um valor pode mudar a qualquer momento na vida de uma pessoa. Tanto os valores ("referem-se às trocas afetivas que o sujeito realiza com o exterior. Surgem da projeção de sentimentos positivos sobre objetos e/ou pessoas, e/ou relações, e/ou sobre si mesmo") quanto os contra-valores (projeção de sentimentos negativos sobre pessoas e/ou coisas que desagradam de alguma forma) estão alinhados à ideia de ética e moralidade - isto é, princípios e normatização de princípios que determinam o que é certo ou errado, respectivamente-, um dos fatores
que explica porque o sistema de valores motiva a conduta das pessoas.
Não obstante, ditames morais, sobretudo, estão relacionados com a cultura de cada povo, cada sociedade, com a maneira que se estabeleceram hábitos e costumes nas mesmas e, portanto variam a medida que pessoas com diferentes crenças, educação, comportamento os determinam como preceitos no meio em que vivem. Dessa forma, cria-se visões distintas sobre um mesmo assunto, objeto, o que for; promovendo pluralidade de ideias, inerente a dimensão cultural sobre a qual se tem conhecimento. Tal raciocínio parece responder a pergunta de Araújo.
O próprio professor exemplificou sua abordagem com os conceitos “culpa” e "vergonha" como reguladores moral. Quando agimos contra algum valor central característico de nossa personalidade sentimos culpa, remorso, pois, de acordo com Araújo, a culpa é a matriz da cultura ocidental e, pode ser substituída pelo "perdão" que a alivia. Enquanto na cultura ocidental a vergonha, um sentimento íntimo, interiorizado é a matriz, o que reflete outro ponto de vista, um comportamento provindo de uma cultura antagônica à ocidental, na qual os valores são diferentes, portanto.
Araújo ainda propõe um modelo do "posicionamento dos valores na identidade", o qual ilustra o fato dos valores alterarem as relações interpessoais, uma vez que a sociedade não é estática, mas sim dinâmica. Ressalta-se, também, que por isso, inclusive, a localização da intensidade desses valores muda de acordo com a idade de um indivíduo, posto que acompanha a vivência, o aprendizado, as prioridades do mesmo, aspectos não apenas particulares, mas sociais que influenciam na adoção de certos valores em detrimento de outros.
Vemos, então, que a sociedade exerce um papel norteador na construção de valores. Existem valores universalmente desejados e adotados por algumas culturas, tais quais os referidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Entretanto, a diversidade cultural existente, por si só, possibilita a defesa de valores diversos e específicos seja numa família, numa tribo, num templo budista, enfim, em quaisquer dimensões sociais. Faz- se importante salientar, uma vez que a sociedade tende a direcionar nossos hábitos e desejos em muitos sentidos, a importância de se questionar e discutir, por fim, quais valores ela pode querer e/ou projetar intencionalmente sobre a atual e as novas gerações. Trata-se, sobretudo, de discutir além do
comportamento humano, pra onde a humanidade tende a caminhar.
Sugestão de leitura:
ARAÚJO, U., PUIG, J. (2007). Educação e valores: pontos e contrapontos. SP: Summus, pp. 17-34
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