terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Aula1. O Ponto de Mutação (“Mindwalk”)

São Paulo,11 de agosto de 2010.


Baseado no livro "The Turning Point" de Fritjof Capra o filme de mesmo título, dirigido por Bernt Capra produz um cenário no qual o encontro das ideias de uma física - Sonia Hoffmann (Liv Ullmann) decepcionada com os rumos de sua profissão - com um poeta - Thomas Harrimann (John Heard) - e um político - Jack Edwards (Sam Waterston) - retrata um diálogo integrado entre três linhas de pensamento e cheio de reflexões profundas a cerca das atitudes humanas, de paradimas existentes, de teorias, etc. Elementos esses que no diálogo convergem numa "teia de relações (...) a essência de todas as coisas vivas" baseada na idéia de interdependência tal qual sintetiza o poema de John Donne:


Nenhum homem é uma ilha isolada;
cada homem é uma partícula do continente, uma parte da Terra(…)
E por isso não perguntes por quem os sinos dobram;
eles dobram por ti.


O ponto de mutação pode ser referido à transformação das convicções filosóficas e morais, que o tempo todo no filme busca combater um estilo de vida mecanicista, cartesiano em prol de um pensamento ecológico, criativo que  suporte e possibilite de fato o melhoramento da vida humana juntamente com a natureza, uma vez que "A vida não se resume a uma máquina e nem a uma rede de conexões bem feitas. Existe algo maior que é fruto da convivência, da vida em comum." (LIRA).


Transcrição de trechos de "O Ponto de Mutação":

"Perdoem-me, mas vocês, políticos, dificultam as coisas. As idéias da maioria de vocês, de direita ou de esquerda, parecem-me antiquadas e mecânicas como um relógio. Para me explicar, eu preciso retroceder até Descartes, que foi o primeiro arquiteto da visão do mundo como relógio. Uma visão mecanicista que ainda domina especialmente vocês. É como se a natureza funcionasse feito um relógio. Vocês a desmontam, a reduzem a um monte de peças simples e fáceis de entender, analisam-nas e, aí, pensam que passam a entender o todo.
Mas não foi sempre assim. Não antes de Descartes. Quando ele introduziu isso, provocou uma ruptura revolucionária com a Igreja. Descartes queria saber como o mundo funcionava sem a ajuda do Papa, pois para ele, o mundo era só uma máquina. Aí Descartes ficou fascinado pela máquina do relógio e fez dele a sua principal metáfora: 'vejo o corpo como nada mais que uma máquina'. Um homem saudável é um relógio bem-feito, e um doente, um relógio malfeito. E funciona tão bem que os cientistas passaram a acreditar que todos os seres vivos, plantas, animais, nós, não passamos de máquinas, e isto é falso. Isto tomou conta de tudo: arte, política etc.
Mas os tempos mudaram Precisamos de uma nova maneira de entender a vida. A ciência já passou o pensamento mecanicista. Mas vocês, políticos, parecem ainda ter essa máquina dentro de suas cabeças.
A grande dívida - Bem, tomemos o problema da superpopulação. Nós não o resolveremos olhando as formas de contracepção isoladamente. Pesquisas demonstram que o contraceptivo mais eficaz são ganhos econômicos e sociais que reduziriam as famílias grandes. 
Vocês sabiam que, no mundo todo, todo dia 40 mil crianças morrem de desnutrição e doenças evitáveis? Quase a todo segundo? 
Mas estas curtas vidas não podem ser vistas isoladamente. Elas são parte de um sistema maior, que envolve a economia, o meio ambiente, e sobretudo à grande dívida do Terceiro Mundo.
O fardo dos empréstimos frenéticos não recai sobre quem tem contas no estrangeiro ou empresas, mas sim sobre os que já não têm nada! Há três anos, um presidente perguntou: 'Crianças devem passar fome para pagarmos a dívida?' 
Tal pergunta foi respondida na prática, e a resposta foi 'sim', porque, desde então, milhares de crianças do Terceiro Mundo deram a vida delas para pagar a dívida de seus países e outros milhões pagam os juros com corpos e mentes subnutridos. 
O Brasil, por exemplo. Vocês sabiam que lá eles destroem a Floresta Amazônica à razão de um campo de futebol por segundo? 
Por quê? Tentam pagar a dívida nacional com o gado e as terras. Nem têm tempo para vender a madeira! Põem fogo na floresta! E o desmatamento é uma das causas principais do efeito estufa na atmosfera. Enquanto isto, nós gastamos na corrida armamentista!
Como vêem, vocês não podem olhar em separado os problemas globais tentando entendê-los e resolvê-los. Claro que podem consertar uma peça, mas ela vai quebrar de novo em um segundo, porque se ignorou o que se conecta a ela. Precisamos mudar tudo de uma vez, ao mesmo tempo. Os ideais, as instituições, os valores. Todas essas novas tecnologias, comunicações e banco de dados causam mais problemas do que os resolvem. A medicina, por exemplo, avançou espantosamente em tecnologia, mas o seu custo subiu igualmente. Tornou-se medicina para ricos. E a saúde pública não melhorou muito, embora pudesse melhorar se apenas mudássemos nossos hábitos alimentares. (Ver também Guia Vegano).




Em vez disso, especialistas pensam em corações artificiais. Se nossa agricultura nos alimentasse melhor, em vez de desmatar a Amazônia para criar gado que tem carne vermelha e é uma das principais causas dos enfartes, talvez não gastássemos tanto dinheiro com corações artificiais. E por aí vai. São só alguns exemplos de conexões.
Outro princípio - A questão política é: 'Como começar?' Mudando nossa maneira de ver o mundo. Vocês ainda procuram a peça certa para consertar primeiro. Não vêem que todos os problemas são fragmentos de uma só crise, uma crise de percepção. 
A medicina mecanicista, por exemplo, tem tido sucesso até certo ponto, pois simplesmente bloqueia os mecanismos da doença E isso não é curar. É como na política. Apenas mudam-se os problemas de lugar. Os sistemas não encorajam a prevenção, só a intervenção.
Não quero condenar o pensamento de Descartes, mas só reconhecer suas limitações. Ver o mundo como uma máquina pode ter sido útil por 300 anos, mas essa percepção, hoje, além de errada, na verdade é nociva. Precisamos de uma nova visão do mundo. O mundo muda mais rápido que a percepção das pessoas. Não seria um grande desafio político pular o abismo, informar, permitir que nos sintamos responsáveis? O povo nem confia mais em vocês, políticos. Na última eleição, só 50% deram-se ao trabalho de votar.
A ciência moderna, a tecnologia e os negócios não fizeram o que Bacon sugeriu: torturar o nosso planeta? Não podemos mais nos esquivar. Não podemos correr o risco. As marés estão diminuindo, talvez por causa do lixo jogado na baía, ou dos fertilizantes. Lagos podem morrer, oceanos inteiros ficam poluídos, o solo, as florestas, as águas, envenenados, mortos! As coisas mudam tão rápido nas mãos do homem. A natureza se fragiliza, a chuva toma-se ácida.
Há dois grandes princípios em todo ser vivo: o masculino, que é dominador, agressivo, seja lá o que for; e o feminino, que é nutriente, gentil! Esses princípios costumavam estar equilibrados e, agora, o homem criou ferramentas e armas físicas e intelectuais para desequilibrá-los completamente! Demos ferramentas mecanicistas às pessoas sedentas de poder! Estou dizendo que vocês, homens, perderam o controle! E vocês, eu, todos nós somos as vítimas. Então qual é o risco ou o erro em darem uma chance a outro princípio?

Pensamento ecológico - Toda manhã eu tento entender a linguagem da natureza: 'As pedras falam, e eu me calo'. Gosto de escrever isso, a que eu chamo de 'pensamento ecológico', em oposição ao pensamento cartesiano. Gostaria de propor um novo modo de ver as coisas, que nos ajudasse a superar esta crise de percepção.
Descobri que pensar de maneira ecológica simplesmente faz mais sentido. Dá uma compreensão mais firme da realidade, dá força. Saber é poder, sim, mas no sentido de poder pessoal, e não do velho impulso masculino de ter poder sobre outros.
Foi Isaac Newton, na verdade, que o concretizou, que o transformou em teoria científica, em poder. Veneravam Newton quase como a um Deus, reduzindo todo fenômeno físico ao movimento de partículas causado pela força da gravidade. Ele conseguia descrever o efeito exato da gravidade em qualquer objeto, com equações precisas. Chamadas de Leis do Movimento, elas são o maior feito da ciência no século XVII. 
Bem, nas mãos certas, ou melhor, nas mentes certas tais equações funcionavam lindamente. Eu poderia usar as leis de Newton para explicar cada movimento. Era um feito tão incrível para a época, que essas leis logo foram adoradas como a teoria correta da realidade, as leis finais da natureza.
O sonho cartesiano do mundo como uma máquina perfeita tornara-se um fato consumado. Isto trouxe inúmeros benefícios às pessoas. Elas podiam fazer coisas com as quais nem sonhavam antes. Era irresistível e, claro, a velha noção do mundo como um ser vivo, sumiu do mapa.
Lembrem-se de que todos os conceitos newtonianos baseavam-se em coisas que podiam ser vistas ou ao menos visualizadas. Mas o que estavam descobrindo neste mundo estranho e novo eram conceitos que não podiam mais ser visualizados.
Ao se depararem com os absurdos fenômenos da física atômica tiveram de admitir que não tinham uma linguagem, nem mesmo uma forma adequada de pensar nas novas descobertas. Foram obrigados a pensar em conceitos radicalmente novos. Para entender porque a matéria é tão sólida precisavam desafiar até as idéias convencionais sobre a existência da matéria, e após muitos anos de frustrações tiveram de admitir que a matéria não existe com certeza e em lugares definidos, mas sim, mostra tendência a existir. Em linguagem científica, não falamos em tendências, falamos em probabilidades. Todas as partículas subatômicas, elétrons, prótons e nêutrons, manifestam essa estranha existência entre potencialidade e realidade. Então, no nível subatômico não há objetos sólidos. Portanto o que toma a rocha sólida, vai além do poder da nossa imaginação. Não posso explicar isto visualmente a vocês, e sim usar equações. Não há metáforas possíveis. 'Se as portas da percepção se abrissem, tudo pareceria como é', disse William Blake.

Ética universal - A vida é um monte de padrões de probabilidades de conexões. Essas probabilidades não são probabilidades de coisas e, sim, probabilidades de conexões. Uma partícula é, essencialmente, um conjunto de relações que se estendem para se conectarem a outras coisas. Conexões de outras coisas, mas que também são conexões, e assim por diante. Na física atômica, nunca se tem objetos. A natureza essencial da matéria não está nos objetos, mas nas conexões.
A essência do acorde está nas relações. É a relação entre a duração e a freqüência que compõe a melodia. As relações formam a música. As relações formam a matéria. Esta visão do universo feito de harmonia de sons e relações não é uma descoberta nova. Os físicos estão apenas provando que o que chamamos de objeto, átomo, molécula ou partícula, é só uma aproximação, uma metáfora No nível subatômico, há uma troca contínua de matéria e energia. Somos todos parte de uma teia inseparável de relações.
Assim como a luz, muitas outras partículas de alta energia, os raios cósmicos, bombardeiam a Terra. Todas essas partículas colidem com o ar e criam mais partículas, interagem, criam e destroem outras partículas, e nós estamos no meio da dança cósmica de criação e destruição. Todos nós, todo o tempo.
Sabiam que nunca falamos de responsabilidade na universidade, nem nunca discutimos ética no meu tempo? Nunca nos ensinaram valores morais. Ninguém nos impôs a sabedoria dos índios americanos que tomavam todas as decisões pensando na sétima geração. Nunca nos ensinaram a pensar no futuro assim. A ciência pura não existe mais! O cientista não se tranca em seu laboratório e escolhe o assunto que mais o fascina. A ciência é cara, e o Pentágono, que paga a maior parte dela, é que decide o que é fascinante. 70% da pesquisa científica nos EUA, atualmente, é paga pelos militares.

Partido verde - Pacifistas, ambientalistas, feministas, veteranos, eles foram todos para o Partido Verde, o que mostra que o pensamento ecológico está ficando mais forte. As pessoas vêem o quadro geral, vêem que as questões estão relacionadas.
Acho que lidamos com um processo histórico tão profundo que nem os americanos resistirão muito. Quando olho para o campo científico, vejo um padrão, a mesma noção holística surgindo. Pensar em processos, e não em estruturas. Isto está acontecendo nos EUA também. Quando algo toma conta do meio cientifico, espalha-se para todo o canto, quer nós gostemos, quer não.
Estou tentando fazê-los aceitar uma visão, mas vocês, políticos, só estão interessados na embalagem. Acho que enquanto continuar a ver as coisas nessa velha ótica patriarcal, cartesiana, newtoniana, vocês deixarão de ver o mundo como ele realmente é. Vocês, eu, todos nós precisamos de uma nova visão do mundo, e de uma ciência mais abrangente para nos apoiar.
Há uma teoria surgindo agora que coloca todas as idéias ecológicas de que falamos numa estrutura científica coesa e coerente. Nós a chamamos de Teoria dos Sistemas Vivos. Todos os seres vivos, bem como os sistemas sociais e os ecossistemas. Essa teoria ajudaria muito na compreensão das ciências que lidam com a vida. Isto é ciência, e muitos cientistas, incluindo alguns prêmios Nobel, têm trabalhado nestas idéias. Isto é ciência, mas de um tipo novo. Em vez de picotar as coisas, ela olha para os sistemas vivos como um todo.
Um cartesiano olharia para uma árvore e a dissecaria, mas aí ele jamais entenderia a natureza da árvore. Um pensador de sistemas veria as trocas sazonais entre a árvore e a terra, entre a terra e o céu. Ele veria o ciclo anual que é como uma gigantesca respiração que a Terra realiza com suas florestas, dando-nos o oxigênio. 0 sopro da vida, ligando a Terra ao céu e nós ao Universo. Um pensador de sistemas veria a vida da árvore somente em relação à vida de toda floresta Ele veria a árvore como o habitat de pássaros, o lar de insetos. Já se vocês, políticos, tentarem entender a árvore como algo isolado, ficariam intrigado com os milhões de frutos que produz na vida, pois só uma ou duas árvores resultarão deles. Mas se vocês virem a árvore como um membro de um sistema vivo maior, tal abundância de frutos fará sentido, pois centenas de animais e aves sobreviverão graças a eles.

Interdependência - A árvore também não sobrevive sozinha. Para tirar água do solo, ela precisa dos fungos que crescem na raiz. O fungo precisa da raiz e a raiz do fungo. Se um morrer, o outro morre também. Há milhões de relações como esta no mundo, cada uma envolvendo uma interdependência.
A teoria dos sistemas reconhece esta teia de relações, como a essência de todas as coisas vivas. Só um desinformado chamaria tal noção de ingênua ou romântica, porque a dependência comum a todos nós é um fato científico. Uma teia de relações. Sim, mas desta vez é a própria teia da vida.
A teoria dos sistemas realmente dá o perfil de uma resposta àquela questão eterna: o que é a vida?




Na linguagem dos sistemas, a resposta seria que a essência da vida é a auto-organização. E significa algo específico, também. Significa que um sistema vivo se mantém, se renova e se transcende sozinho. Um sistema vivo, embora dependa do ambiente, não é determinado por ele. Os campos de centeio nesta ilha francesa deveriam ser verdes o ano inteiro, por causa das chuvas. Mas todo verão eles ficam amarelos. Por quê? Para usar uma metáfora, cada planta se '1embra' que surgiu no clima seco do sul da Ásia. Ela 'lembra', e nem o clima muito diferente muda este mecanismo. Ela se mantém e se organiza sozinha.
Nós, por exemplo, como todo ser vivo, nos renovamos sempre em ciclos contínuos. Bem mais rápido do que imaginam Sabiam que o pâncreas humano substitui a maior parte de suas células a cada 24 horas? Acordamos com um pâncreas novo todos os dias e uma nova mucosa gástrica também. Nossa pele descama à razão de milhares de células por minuto. Sabiam que a maior parte do pó das nossas casas é só pele morta?
Ao mesmo tempo em que as células mortas caem, igual número se divide e forma a nova pele. Assim a vida se renova. Embora as células sejam trocadas, reconhecermos um ao outro porque o padrão de nossa organização continua o mesmo. Esta é uma das características importantes da vida: mudança estrutural continua, mas estabilidade nos padrões de organização do sistema E há a autotranscendência.
A auto-organização não consiste apenas nos sistemas vivos se manterem e se renovarem continuamente. Significa também que têm uma tendência a se transcenderem, a se estenderem, e a criarem novas formas. Esta para mim, é uma das partes mais emocionantes de entender a vida A dinâmica evolutiva básica da vida não é a adaptação. É a criatividade. A criatividade é um elemento básico da evolução. Cada organismo vivo tem potencial para a criatividade, para surpreender e transcender a si mesmo. Para criar beleza também Evolução é muito mais do que adaptação ao meio ambiente. O que é o meio ambiente senão um sistema vivo, que evolui e se adapta criativamente?
Então, quem se adapta a quem?
Um se adapta ao outro. Eles coevoluem. A evolução é uma dança em progresso, uma conversa em progresso. 'Não evoluímos no planeta, evoluímos com o planeta'. Então, não seria extraordinário e poderoso se pudesse introduzir só essa idéia no diálogo político?
A questão central é a busca obsessiva do crescimento! Isso precisa parar.
Para começar, é dando importância à próxima geração e à seguinte. Foi só quando não as incluímos em nossas teorias científicas e na busca do crescimento, que colocamos toda a vida em perigo.
Pensem apenas no fato horripilante de estarmos deixando para nossos filhos o mais venenoso dos detritos: o plutônio! Ele continuará venenoso até a próxima geração, e a seguinte. Continuará venenoso por meio milhão de anos!
Nunca deveríamos ter aceitado a teoria de que saber é poder, nem a idéia de que o que é bom para a GM é bom para os EUA!
Precisamos de uma sociedade sustentável, em que nossas necessidades sejam satisfeitas sem diminuir as possibilidades da próxima geração!"





Referências:

CAPRA, Bernt. O ponto de mutação (MindWalk). [Filme-vídeo]. Produção de LINTSCHINGER, Klaus; COHEN, Adrianna, direção de CAPRA,Berne. EUA, Instituição, 1992. 1 cassete VHS / NTSC, 122 min. color. Son.

LIRA, Ana. Disponível em: <http://ekalafabio.multiply.com/links/item/38/38>.

Aula 2. Direitos Humanos

São Paulo, 18 de agosto de 2010




Para entendermos a dimensão dos direitos humanos, é interessante compreendermos, antes,  o âmbito da Declaração Universal dos mesmos, suas pretensões e motivações dada sua constituição em 1948. Essa, proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas (AGNU) - órgão constituinte da ONU - “nasceu”, no contexto do pós guerra, da tentativa de promover paz e evitar uma terceira guerra mundial.
Tendo em vista a época fortemente marcada por regimes totalitários, por desigualdades e discriminações, seja quanto ao aspecto religioso, econômico, social ou mesmo quanto às relações de gênero; considerou-se a adoção dos “direitos naturais” do ser humano - ou “ jusnaturalismo” - como ação norteadora e essencial à Declaração, partindo do pressuposto de que a garantia de tais direitos fosse “a condição necessária para uma paz duradoura” (TOSI, p. 2), uma vez que a eles muito estão relacionadas as idéia de liberdade e direito à vida:

Apesar das diferentes concepções de Estado, todos os jusnaturalistas modernos, inclusive Hobbes, afirmam que o Estado nasce da associação dos indivíduos livres para proteger e garantir a efetiva realização dos direitos naturais inerentes aos indivíduos, que existiam “antes” da criação do Estado e que cabe ao Estado proteger. Para Hobbes trata-se, sobretudo, do direito à vida, para Locke do direito à propriedade, para Rousseau e Kant do único e verdadeiro direito natural, que inclui todos os outros, isto é, a liberdade entendida como autonomia do sujeito(TOSI - b, p.2-3).


Não obstante, os termos “igualdade” e “fraternidade” também permeiam a elaboração do referido documento, haja vista que o mesmo abrange tanto influências do liberalismo, quanto do socialismo e do cristianismo social a fim de representar, de forma amplamente consensual, diretrizes legítimas no que tange à dignidade humana. Nessa linha de pensamento alguns pactos e protocolos internacionais foram assinados e passaram a compor a Carta Internacional dos Direitos do Homem, tais quais os relacionados por Tosi (a,  p.2) abaixo:
  • A Convenção relativa à Luta contra a Discriminação no Campo do Ensino (1960);
  • A Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial (1966); O Pacto Internacional Relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 (assinado por 118 Estados);
  • O Pacto Internacional Relativo aos Direitos Civis e Políticos, também de 1966 (assinado por 115 Estados), e os dois Protocolos Facultativos de 1966 e 1989;
  • A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (1979); A Convenção sobre os Direitos da Criança (1989);
  • A Convenção para proteção e promoção da diversidade de expressões culturais (2005).
A partir de iniciativas manifestadas em tais documentos os direitos humanos foram estendidos a um maior número de cidadãos na chamada tendência à universalização; foram, também, multiplicados os temas a serem defendidos em prol dos direitos do homem, passando a ser considerados, inclusive, a natureza e o meio ambiente, a identidade cultural dos povos e das minorias. (TOSI-a, p.3). Enfim, posteriormente, uma série de legislações surgiram ancoradas à Declaração Universal dos Direitos Humanos (D.U.D.H), tais quais o Estatuto da Igualdade Racial, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Estatuto do Idoso, Estatuto da Cidade, entre outros. Normatizações e ações essas que representam até hoje, e, por que não, a promoção e construção da justiça, bem como a manutenção da mesma.




Leitura obrigatória da disciplina PET:
Declaração Universal dos Direitos Humanos


Bibliografia Sugerida:
Carvalho, J.S (org) (2004). Educação, cidadania e direitos humanos. São Paulo: Vozes. Pg. 19-65


Outras Referências:
TOSI(a), Giuseppe. O significado e as consequências da declaração universal de 1948. s.d.
Disponível em: <http://www.redhbrasil.net/documentos/bilbioteca_on_line/modulo1/6.o_significado_dudh_tosi.pdf>.

TOSI(b), Giuseppe. Liberdade, igualdade e fraternidade na construção dos direitos humanos. s.d. Disponível em:  <http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/01/05_tosi_liberdade_igualdade.pdf>.

Aula 3. Cultura e Diversidade na Contemporaneidade

São Paulo, 15 de setembro de 2010

Parte1. Construção da Identidade

(...) a identidade social é um conjunto relativamente estável de percepções sobre quem somos em relação a nós mesmos, aos outros e aos sistemas sociais. (...) é socialmente construída, no sentido de ser moldada através da interação com outras pessoas e por utilizar materiais sociais sob a forma de imagens e ideias culturais. Como acontece com a socialização em geral, é claro, o indivíduo não é um participante passivo desse processo, e pode exercer uma influência muito forte sobre a maneira como o processo e suas conseqüências se desenvolvem (Ribeiro).




São Paulo, 22 de setembro de 2010

Parte2. Tradições Africanas


De acordo com historiadores, a prática da circuncisão é um costume muito antigo que teria nascido no continente africano há mais de cinco mil anos. A intervenção cirúrgica é justificada pela mitologia e por algumas religiões como podemos perceber com o trecho a seguir:

E a aliança que eu faço com vocês e com seus futuros descendentes, e que vocês devem observar, é a seguinte: circuncidem todos os homens. Circuncidem a carne do prepúcio. Este será o sinal da aliança entre mim e vocês. Quando completarem oito dias, todos os meninos de cada geração serão circuncidados; também os escravos nascidos em casa ou comprados de estrangeiros, que não sejam da raça de vocês (Gênesis, XVII, 10-11 apud CHEBEL). 





Embora adotada marcadamente pelas justicativas acima, a prática cultural da circuncisão, ainda que chocante para muitos - sendo considerada inclusive violação dos direitos humanos por alguns -, tem se extendido pela Europa e pelos Estados Unidos também, por preocupação com higiêne, de adorco com o antropólogo e psicanalista Chebel. Além disso, um estudo - sem evidências suficientes - da Universidade Johns Hopkins (EUA), divulgado recentemente, estimula a prática pois argumenta que "a circuncisão diminui em até 60% o risco de contrair o vírus da Aids" e reduziu "a contaminação por HPV (30%) e por herpes (25%)." na Unganda (Folha Online apud Equipe Voluntária).



Aula 4. Relações amorosas no mundo contemporâneo – Profa. Ms. Juliana Franzi

São Paulo, 29 de setembro de 2010

A partir de um estudo bibliográfico com enfoque no processo histórico da construção das relações amorosas, a Profa. Ms. Juliana Franzi analisou como valores e projeções afetivas nas mesmas se relacionam com casos de violência, tendenciam o comportamento de homens e mulheres, bem como influenciam suas escolhas afetivas.
Baseada em estudiosos como Valéria Amorim Arantes, Jane Felipe, Contardo Calligaris, Maria de Fátima Araújo, entre outros, Franzi propôs à turma 74 de Psicologia, Educação e Temas Contemporâneos da EACH/USP uma reflexão a cerca de questões tais quais as citadas a seguir: "Como escolhemos nossas relações amorosas?", "Que valores estão postos nessas escolhas?", "Como podemos refletir e nos educar em nossas escolhas?", "Existem indicadores que permitem essa reflexão?".
Para ajudar a compreender tais indagações e porque respostas para as mesmas muitas vezes não são percebidas facilmente, Valéria Arantes e Jane Felipe recorrem à atuação das escolas,já que essas exercem papel fundamental na sociedade como difusoras de conhecimento. Arantes, em seu livro "Afetividade na Escola", inscreve como instituições de ensino podem trabalhar com a dicotomia entre razão e emoção, com o sentimento,assunto tão pouco abordado nesse âmbito. Felipe, por sua vez, ressalta a deficiência da escola ao tratar e conscientizar seus alunos sobre aspectos ligados à intimidade de cada um, como sexualidade, por exemplo. Tema esse, muito relacionado às diferentes concepções de amor, como bem sugere o título do
artigo - "Representações de amor romântico: implicações para a Educação Sexual na escola"- no qual Felipe (b- p.1-2) menciona:


 no âmbito da escola, é possível observar alguns esforços no sentido de discutir a sexualidade, mas muitas vezes este tema é abordado apenas sob o viés da prevenção, do medo da doença e da morte, acrescido de um certo pânico moral.(...) Apesar da  relevância dessas iniciativas, considero fundamental desenvolvermos, no   âmbito da escola, uma abordagem mais ampla em torno da sexualidade, enfatizando os aspectos                                                                  culturais que a envolvem. 


Nesse sentido, ainda que a escola não omita temas como os citados e exerça papel bastante considerável no que se refere a alertar, sobretudo os jovens, a respeito de aspectos preventivos relacionados à doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce, mostra-se desvirtuada a medida que restringe informações com respostas estáveis favorecendo apenas o ensino de fatos em detrimento da compreensão de questões íntimas (BRITZMAN, Debora. 1999, p. 85;90 apud a- FELIPE, Jane) as quais são ignoradas como se não tivessem relevância no comportamento humano. Esse posicionamento reflete a mentalidade, talvez alienada, de indivíduos e, mais que isso a cultura, os valores sociais que a projetam e delineiam inclusive as relações afetivas.



Os ditos populares "em briga de marido e mulher não se mete a colher", "entre quatro paredes vale tudo", por sua vez, transmitem a ideia de que no Brasil a violência de gênero é tratada como algo de âmbito privado e não público, consequência de informações que por muito tempo são disseminadas até tornarem-se arraigadas, consolidando, então, certa ideologia dominante. Além disso, ainda no que tange à violência, muito são criticadas as mulheres que maltratadas pelos parceiros afetivos ou apenas conjugais, permanecem com os mesmos. É desconsiderado, entretanto,  que tais relações, em geral, são frutos de tradicionalismo e concepções conservadoras, machistas - a cerca de conjugalidade -, em que a mulher se submete à dominação masculina por dependência econômica ou mesmo por não se sujeitar a difamações de vizinhos e parentes numa dada conjuntura cultural. Relações conjugais assim remetem ao "amor cortês" que mais tarde influenciou o surgimento do "amor romântico"1 e da fundação do casamento como ápice do amor até assumir as configurações de "amor confluente"2 e "relacionamento puro"3, as novas formas de relacionamento amoroso.
Mas afinal, o que é amor? Qual sua relação com sexualidade e conjugalidade?


amor é uma crença emocional e, como toda crença, pode ser mantida, alterada, dispensada, trocada, melhorada, piorada ou abolida. O amor foi inventado como o fogo, a roda, o casamento, a medicina, o fabrico do pão, a arte erótica chinesa, o computador, o cuidado com o próximo, as heresias, a democracia, o nazismo.(...) Como uma construção histórica e cultural, o amor, a paixão, bem como seus desdobramentos em termos de relação, merecem ser amplamente discutidos na perspectiva de uma educação para a sexualidade, e aqui utilizo essa expressão por entender que ela pode acionar discussões mais abrangentes quando se trata de refletir sobre nossos prazeres e desejos, não se restringindo ao sexual como ato, mas proporcionando outras vias de discussão e temáticas diversas, para além do viés biologicista (b- FELIPE, Jane).


De acordo com Araújo (2002), a vinculação de amor à sexualidade e ao casamento é uma criação da era burguesa que ganhou força a partir do século XVIII, quando, no casamento, a sexualidade passou a ocupar um lugar importante. Com o advento da modernidade e a crise do matrimônio a independência tornou-se condição para viver uma relação amorosa, num tempo em que acentuou-se a individualização, a "epidemia de egoísmo", a "febre do eu" em busca de autonomia e determinação própria do sujeito. Tais características favorecem espaço para o amor  confluente no qual respeito, liberdade e confiança são negociados e conversados o tempo todo.




No contexto brasileiro, principalmente entre os segmentos médios urbanos mais intelectualizados, o casamento tradicional regido pela dominação masculina vem dando lugar a outra forma de casamento, onde a mulher reivindica igualdade e há uma constante negociação no relacionamento, conforme descrevemos em outros trabalhos (Araújo, 1993 e 1999). Nesse tipo de casamento, a intimidade tende a se reestruturar com base em novos valores, entre os quais amizade e companheirismo se colocam como fundamentais.(...) Nesse cenário, as mulheres tiveram um papel de revolucionárias emocionais da modernidade e prepararam o caminho para expansão da intimidade.(...)Tal conquista tem permitido o surgimento de outras formas de relacionamento amoroso, tanto no contexto heterossexual quanto fora dele. Vivemos hoje no signo da pluralidade. O casamento formal, heterossexual com fins de constituição da família, continua sendo uma referência e um valor importante, mas convive com outras formas de relacionamento conjugal como as uniões consensuais, os casamentos sem filhos ou sem coabitação, e também as uniões homossexuais. Nesse processo de transformação da intimidade, dos valores e das mentalidades, a tendência da sociedade é tornar-se cada vez mais flexível para acolher essas novas configurações das relações amorosas (ARAÚJO, 2002).


Tal compreensão da dimensão histórica do tema "amor" possibilita responder por que amamos quem amamos - o que antes se mostrava uma busca insana sobre como o amor se instala nos seres humanos -, como amamos - nossas escolhas afetivas -, uma vez que a partir daí se faz perceptível como os processos socializadores que vivenciamos influenciam as pessoas à atração por determinado modelo de homem e/ou de mulher, entre outras questões, possibilitando até mesmo um auto-conhecimento e por que não um melhoramento das relações interpessoais e afetivas sobrevindas do bem estar de um ser humano menos conflitivo e mais esclarecido.


1."A diferença é que, embora o amor romântico suponha uma igualdade de envolvimento emocional entre duas pessoas, durante muito tempo as mulheres foram mais afetadas pelos seus ideais. Os sonhos do amor romântico conduziram muitas mulheres a uma severa sujeição doméstica. O ethos do amor romântico teve um impacto duplo sobre a situação das mulheres: além de ajudar a colocar as mulheres "em seu lugar" - o lar -, reforçou o compromisso com o "machismo" ativo e radical da sociedade moderna. Os ideais do amor romântico começaram a se fragmentar com a emancipação sexual e a autonomia femininas. O declínio do 
controle sexual dos homens sobre as mulheres colocou possibilidades reais de transformação da intimidade."(ARAUJO, 2002).


2."O "amor confluente" é mais real que o amor romantico, porque não se pauta pelas identificações projetivas e fantasias de completude. Presume igualdade na relação, nas trocas afetivas e no envolvimento emocional. O amor confluente introduz a ars erotica no cerne do relacionamento conjugal e transforma a realização do prazer sexual recíproco em um elemento-chave na manutenção ou dissolução do relacionamento. Desenvolve-se como um ideal em uma sociedade onde quase todos têm a oportunidade de se tornarem sexualmente realizados. Ao contrário do amor romântico, o amor confluente não é necessariamente monogâmico nem heterossexual"(ARAUJO, 2002).


3."O "relacionamento puro" é um relacionamento centrado no compromisso, na confiança e na intimidade. Implica em desenvolver uma história compartilhada em que cada um deve proporcionar ao outro, por palavras e atos, algum tipo de garantia de que o relacionamento deve ser mantido por um período indefinido.(...)Nesse tipo de relacionamento, o que conta é a própria relação, e a sua continuidade depende do nível de satisfação que cada uma das partes pode extrair da mesma."(ARAUJO, 2002).


Referências Bibliográficas:

a- FELIPE, Jane. Do amor (ou de como glamourizar a vida): apontamentos em torno de uma educação para a sexualidade. Disponível em: <http://discutindosexualidades.blogspot.com/2006/09/referncias-bibliogrficas-citadas-na.html>.

b- FELIPE, Jane. Representações de amor romântico: implicações para a Educação Sexual na escola. Disponível em: <http://www.fazendogenero.ufsc.br/7/artigos/J/Jane_Felipe_07_A.pdf>.

ARAÚJO, Maria de Fátima. Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações. Psicol, cienc. Prof. [online]. 2002, vol.22, n.2, pp. 70-77. ISSN 1414-9893. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98932002000200009&script=sci_arttext>.

Aula 5. Ética e Valores na sociedade contemporânea - Profo. Ulisses Araújo

São paulo, 06 de outubro de 2010

"Como uma coisa pode ser duas ao mesmo tempo?" - questionou o Profo. Ulisses Araújo aos alunos da turma 74 antes de situá-los na temática da aula, a fim de obter explanações e o direcionamento que as mesmas dariam a sua indagação. Se apoiando, posteriormente, na ideia da "teoria do caos" - a influência de forças e fatores atuam sobre pessoas e/ou objetos de forma diferente - e de um dos aspectos representados no filme "O ponto de mutação" - perspectivas diferentes - o Profo. Araújo fez alusão à construção de valores morais com base em estudo publicado no livro de sua autoria: "Educação e valores: pontos e contrapontos".
Tal construção se trata de um processo fluido e não rígido, posto que um valor pode mudar a qualquer momento na vida de uma pessoa. Tanto os valores ("referem-se às trocas afetivas que o sujeito realiza com o exterior. Surgem da projeção de sentimentos positivos sobre objetos e/ou pessoas, e/ou relações, e/ou sobre si mesmo") quanto os contra-valores (projeção de sentimentos negativos sobre pessoas e/ou coisas que desagradam de alguma forma) estão alinhados à ideia de ética e moralidade - isto é, princípios e normatização de princípios que determinam o que é certo ou errado, respectivamente-, um dos fatores
que explica porque o sistema de valores motiva a conduta das pessoas.
       Não obstante, ditames morais, sobretudo, estão relacionados com a cultura de cada povo, cada sociedade, com a maneira que se estabeleceram hábitos e costumes nas mesmas e, portanto variam a medida que pessoas com diferentes crenças, educação, comportamento os determinam como preceitos no meio em que vivem. Dessa forma, cria-se visões distintas sobre um mesmo assunto, objeto, o que for; promovendo pluralidade de ideias, inerente a dimensão cultural sobre a qual se tem conhecimento. Tal raciocínio parece responder a pergunta de Araújo.
O próprio professor exemplificou sua abordagem com os conceitos “culpa” e "vergonha" como reguladores moral. Quando agimos contra algum valor central característico de nossa personalidade sentimos culpa, remorso, pois, de acordo com Araújo, a culpa é a matriz da cultura ocidental e, pode ser substituída pelo "perdão" que a alivia. Enquanto na cultura ocidental a vergonha, um sentimento íntimo, interiorizado é a matriz, o que reflete outro ponto de vista, um comportamento provindo de uma cultura antagônica à ocidental, na qual os valores são diferentes, portanto.
Araújo ainda propõe um modelo do "posicionamento dos valores na identidade", o qual ilustra o fato dos valores alterarem as relações interpessoais, uma vez que a sociedade não é estática, mas sim dinâmica. Ressalta-se, também, que por isso, inclusive, a localização da intensidade desses valores muda de acordo com a idade de um indivíduo, posto que acompanha  a vivência, o aprendizado, as prioridades do mesmo, aspectos não apenas particulares, mas sociais que influenciam na adoção de certos valores em detrimento de outros.
Vemos, então, que a sociedade exerce um papel norteador na construção de valores. Existem valores universalmente desejados e adotados por algumas culturas, tais quais os referidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Entretanto, a diversidade cultural existente, por si só, possibilita a defesa de valores diversos e específicos seja numa família, numa tribo, num templo budista, enfim, em quaisquer dimensões sociais. Faz- se importante salientar, uma vez que a sociedade tende a direcionar nossos hábitos e desejos em muitos sentidos, a importância de se questionar e discutir, por fim, quais valores ela pode querer e/ou projetar intencionalmente sobre a atual e as novas gerações. Trata-se, sobretudo, de discutir além do
comportamento humano, pra onde a humanidade tende a caminhar.



Sugestão de leitura: 

ARAÚJO, U., PUIG, J. (2007). Educação e valores: pontos e contrapontos. SP: Summus, pp. 17-34

Aula 6. Gênero e Sociedade - Profa. Brigitte Ursula Stach Haertel

São paulo, 20 de novembro de 2010

As questões de gênero, assim como o amor, como o casamento, são criações, invenções da sociedade. Sendo assim, nada mais pertinente do que acompanhar como se inicia ou se manifesta a compreensão dos papeis sociais, tradicionalmente atribuídos às diferentes categorias de sexo, logo no começo da vida humana, na infância e na juventude.
Para isso, Haertel pesquisou nas camadas populares urbanas, especificamente em quatro escolas públicas e em duas particulares, o comportamento já previsível de cidadãos em formação num país de cultura arraigadamente patriarcalista, no qual apesar das mudanças já observadas e avanços no que se refere à desnaturalização das "discriminações praticadas contra os elementos femininos" (SAFFIOTI,1987, p.15), por exemplo, nota-se a postergação no trato diferenciado dado às meninas e meninos. Meninas, em geral, ainda são educadas de maneira a se tornarem delicadas e frágeis, enquanto a maior parte dos meninos é habituada à prática de ações que projetará e caracterizará a "vida de homem" (SAFFIOTI,1987, p.14). Entretanto, como menciona Simone Beauvoir (apud SAFFIOTI,1987, p.10): "ninguém nasce mulher; torna-se mulher". Da mesma maneira ocorre com os homens, como bem explica Saffioti (1987, p.10): "Rigorosamente os seres humanos nascem machos ou fêmeas. É através da educação que recebem que se tornam homens e mulheres. A identidade social é, portanto, socialmente construída.".
Um exemplo prático de como a educação nacional se manifesta de forma machista é o próprio mecanismo pela qual ela é transmitida: a gramática portuguesa. Habituou-se a se referir a ambos os sexos por "alunos", "homens", "cidadãos", substantivos masculinos que representam senão discriminações como já citado, o "poder do macho" consolidado, ainda que inconscientemente.
A partir da preocupação em entender o processo pelo qual se dá a relação de gênero na realidade social, discuti-lo como o fez Haertel e, também, Saffioti em seu brilhante estudo resultante de 25 anos de pesquisas registrado em "O poder do macho"; bem como a partir da observação atenta do quão iníqua se mostra a sociedade e seus valores dominantes, seja por meio de filmes, músicas, novelas, ação cotidiana, etc, é que se pode despertar a consciência de jovens, especialmente,  para a elaboração de um novo caminho, como sugere Saffioti (1987, p.7):


 (…) conducente a uma sociedade menos injusta, menos castradora. Embora este caminho possa não ser o melhor, nem mesmo o único, para a construção de relações igualitárias de gênero, isto é, entre homens e mulheres, sem dúvida é muito superior aos modelos que gerações sucessivas vêm repetindo ao longo da história. Desta sorte, a sugestão do caminho está feita. A maneira de trilhá-lo constituirá tarefa de cada um.  


Referência Bibliográfica:

SAFFIOTI, Heleieth I.B. O poder do Macho. São Paulo: Moderna, 1987.

Aula 7. Desenvolvimento Moral e Valores - Profa. Viviane Potenza G. Pinheiro

São Paulo, 27 de novembro de 2010

Mestre e doutoranda em psicologia e educação pela FE/USP, Pinheiro apresentou na disciplina "Psicologia, Educação e Temas Contemporâneos", as perspectivas atuais em psicologia moral, a partir de uma atividade dinâmica na qual pode ser analisados exemplos de conflitos e dilemas morais, seus contextos, nível de gravidade, conseqüências, sentimentos e escolhas, aspectos através dos quais iniciou uma exposição sobre moralidade humana.
De acordo com Pinheiro, grande parte das correntes de estudo não priorizam a relação que se faz, entre moralidade e "certo" e "errado", mas sim a moral do dever. Kant, em "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" aborda o "imperativo categórico" quanto à moral: propõe que o ser humano haja de uma forma que seja boa universalmente, isto é, para todos. A moral do dever exige que seja seguidas as regras da sociedade acima de tudo. No entanto, há vários pontos que devemos considerar quando tratamos de moral. Não se deve levar em conta apenas o dever.
Pinheiro apresentou também um pouco das ideias de quatro autores: Piaget, Kohlberg, Gilligan e Araújo. O primeiro estudou o princípio da justiça que muito se relaciona com regras, especificamente, o juízo moral na criança:

-anomia - ausência de regras (bebê);
-heteronomia - as regras vem de fora para dentro, ou seja, são obtidas através de outros indivíduos mais experientes;
-autonomia - as regras são elaboradas pelo prórpio sujeito (criação)
(PIAGET, 1932)

Kohlberg pensou em seis estágios de desenvolvimento moral mais fixos do que os de Piaget e também se baseou na justiça, princípio norteador de seu estudo. Gilligan (1985), por sua vez, elaborou uma teoria que rompeu com os estudos de seu orientador Kohlberg a fim de provar que as mulheres não tinham nível moral inferior ao dos homens. Assim, contribuiu com uma outra visão para a ciência  ao definir duas orientações para o desenvolvimento moral: moral da justiça (elaborada, em geral, pelos homens) e moral do cuidado (elaborada, em geral, pelos mulheres).
O "Modelo de Sujeito Psicológico" do Profo. Ulisses Araújo representa como a moralidade faz parte de nós mesmo, da nossa personalidade, ou seja, está integrada ao sujeito juntamente com suas esferas cognitiva, biológica, sócio-cultural, afetiva e, por isso se relaciona também com a idéia de valores centrais - constantes no sistema moral dos indivíduos - e periféricos - " 'fluidos' no sistema moral " (DAMON, 1995; ARAÚJO,2007). A complementaridade desses valores constitui a personalidade humana: um valor sempre surge associado a outro e quando isso não ocorre tende a ser fraco e não influenciar muito a caracterização de nossa personalidade, posto que a tendência dessa é de caminhar sempre para unidade, tal qual nos
explica a teoria à integração de Blasi (1995,2004).

Aula 8. Apresentação Relatório dos Grupos

São Paulo, 10 de novembro de 2010



Grupo 1. Linha 12 (Safira) da CPTM atende aos direitos públicos adequadamente?

Artigo XXI 
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

Séra que as pessoas estão satisfeitas com o serviço dos trens metropolitanos?




Grupo 2. Controle de Natalidade, DH e Sociedade.

Artigo XII 
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.




Grupo 3. O conhecimento produzido na USP é realmente Público? (Propriedade intelectual, direito autoral e acesso livre)

 Artigo XXVII 
1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.
2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.




Grupo 4. Existem condições de lazer e vida digna para o paulistano que depende do trem?

Artigos: 
V - Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
XXIV - Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas
XXV - 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.

Museu da Língua Portuguesa:


Estação da Luz e museu


Memorial da América Latina:

Foto: Catolina Tavares. 7/11/2010


Red Bull Sounderground no Brasil:



Programação Completa:
8 de novembro
Estação Ana Rosa (Linha Azul):
11h às 13h - Mustard and Custard
17h às 19h - Tribal Baroque

Estação Anhangabaú (Linha Vermelha)
11h às 13h - Ana Goes
17h às 19h - Xylopholks
Estação Barra Funda (Linha Vermelha)
11h às 13h - Vadim Klokov
17h às 19h - The Nomadic Mystics
Estação Brás (Linha Vermelha)
11h às 13h - Mellow and Pyro
17h às 19h - Rafael Masgrau
Estação Itaquera (Linha Vermelha)
11h às 13h - Gaitas Mexicanas
17h às 19h - Lewis Floyd Henry

Estação Luz (Linha Azul)
11h às 13h - Vivian del Pintor
17h às 19h - O'Connor and Gryn

Estação República (Linha Vermelha)
11h às 13h - Anatol
17h às 19h - Blood Red Sombreros

Estação Sé (Linha Azul/ Linha Vermelha)
11h às 13h - Pedro Loop
17h às 19h - Kutner and Koc

Estação Tatuapé (Linha Vermelha)
11h às 13h - Les Maga
17h às 19h - Duo Benetiz

Estação Vila Madalena (Linha Verde)
11h às 13h - Akil Dasan
17h às 19h - Vibrafone Chorão
9 de novembro
Estação Ana Rosa (Linha Azul):
11h às 13h - Vivian del Pintor
17h às 19h - Duo Benetiz
Estação Anhangabaú (Linha Vermelha)
11h às 13h - Kutner and Koc
17h às 19h - Mustard and Custard
Estação Barra Funda (Linha Vermelha)
11h às 13h - O'Connor and Gryn
17h às 19h - Xylopholks
Estação Brás (Linha Vermelha)
11h às 13h - Ana Goes
17h às 19h - Akil Dasan
Estação Itaquera (Linha Vermelha)
11h às 13h - Vibrafone Chorão
17h às 19h - Vadim Klokov
Estação Luz (Linha Azul)
11h às 13h - Lewis Floyd Henry
17h às 19h - Pedro Loop
Estação República (Linha Vermelha)
11h às 13h - Gaitas Mexicanas
17h às 19h - Mellow and Pyro
Estação Sé (Linha Azul/ Linha Vermelha)
11h às 13h - Anatol
17h às 19h - The Nomadic Mystics
Estação Tatuapé (Linha Vermelha)
11h às 13h - Blood Red Sombreros
17h às 19h - Tribal Baroque
Estação Vila Madalena (Linha Verde)
11h às 13h - Rafael Masgrau
17h às 19h - Les Maga

10 de novembro
Estação Ana Rosa (Linha Azul):
11h às 13h - Mellow and Pyro
17h às 19h - O'Connor and Gryn
Estação Anhangabaú (Linha Vermelha)
11h às 13h - Pedro Loop
17h às 19h - The Nomadic Mystics
Estação Barra Funda (Linha Vermelha)
11h às 13h - Mustard and Custard
17h às 19h - Lewis Floyd Henry
Estação Brás (Linha Vermelha)
11h às 13h - Vadim Klokov
17h às 19h - Kutner and Koc
Estação Itaquera (Linha Vermelha)
11h às 13h - Les Maga
17h às 19h - Vivian del Pintor
Estação Luz (Linha Azul)
11h às 13h - Rafael Masgrau
17h às 19h - Blood Red Sombreros
Estação República (Linha Vermelha)
11h às 13h - Akil Dasan
17h às 19h - Vibrafone Chorão
Estação Sé (Linha Azul/ Linha Vermelha)
11h às 13h - Duo Benetiz
17h às 19h - Tribal Baroque
Estação Tatuapé (Linha Vermelha)
11h às 13h - Gaitas Mexicanas
17h às 19h - Anatol
Estação Vila Madalena (Linha Verde)
11h às 13h - Ana Goes
17h às 19h - Xylopholks

11 de novembro
Estação Ana Rosa (Linha Azul):
11h às 13h - Mellow and Pyro
17h às 19h - Vadim Klokov
Estação Anhangabaú (Linha Vermelha)
11h às 13h - Akil Dasan
17h às 19h - Les Maga
Estação Barra Funda (Linha Vermelha)
11h às 13h - Blood Red Sombreros
17h às 19h - Tribal Baroque
Estação Brás (Linha Vermelha)
11h às 13h - Gaitas Mexicanas
17h às 19h - Vibrafone Chorão
Estação Itaquera (Linha Vermelha)
11h às 13h - Ana Goes
17h às 19h - O'Connor and Gryn
Estação Luz (Linha Azul)
11h às 13h - Duo Benetiz
17h às 19h - The Nomadic Mystics
Estação República (Linha Vermelha)
11h às 13h - Pedro Loop
17h às 19h - Kutner and Koc
Estação Sé (Linha Azul/ Linha Vermelha)
11h às 13h - Vivian del Pintor
17h às 19h - Xylopholks
Estação Tatuapé (Linha Vermelha)
11h às 13h - Lewis Flyod Henry
17h às 19h - Mustard and Custard
Estação Vila Madalena (Linha Verde)
11h às 13h - Rafael Masgrau
17h às 19h - Anatol

12 de novembro
Estação Paraíso (Linha Azul, sentido Tucuruvi)
17h às 20h - 'jam session' com todos os artistas